top of page

Sobre a adolescência

  • Foto do escritor: Psicóloga Cláudia Yaísa
    Psicóloga Cláudia Yaísa
  • 12 de fev. de 2019
  • 3 min de leitura

ree

Na adolescência acontecem as conhecidas mudanças biológicas com reflexos visíveis no corpo do indivíduo. Nos meninos crescimento dos pelos, engrossamento da voz, aumento da estatura, espinhas, espermarca; e nas meninas crescimento dos seios, aumento do quadril, aumento de pelos, de estatura, menarca. Porém, modificações psicológicas e sociais também se fazem presentes nesse período. Erikson (1971, pp.242) define a adolescência enquanto "uma etapa psicossocial entre a infância e a idade adulta, entre a moral aprendida pela criança e a ética a ser desenvolvida no adulto".


Nessa fase são observáveis grupinhos de adolescentes partilhando alguma característica em comum, por vezes isso acontece devido à necessidade de uma super identificação temporária de uns com os outros, até a evidente perda de identidade em função dos heróis dos grupos, justamente pela identidade do adolescente estar em processo de estruturação; "estão sempre dispostos a instituir ídolos e ideais duradouros como guardiães de uma identidade final". (Erikson, 1971, pp. 240).


Outro aspecto característico dessa etapa é a aproximação com os grupos de seu interesse e ao mesmo tempo a exclusão daqueles considerados destoantes pelo motivo que seja (raça, classe social, gosto, vestuário, religião, etc.). Em certos casos essa situação de exclusão, apesar de não dever ser incentivada, pode mostrar-se como uma defesa que ataca o conflito interno do adolescente com relação a seu sentimento de identidade ainda não totalmente formado. Dessa forma, verifica-se nos grupinhos de adolescentes a proteção e encobertamento entre si, além dos estereótipos dos seus ideais e dos que são inimigos.


O próprio amor adolescente é um caminho delineado para se alcançar uma identidade própria por meio da "projeção de uma imagem difusa da própria pessoa numa outra, vendo-a assim refletida e gradualmente aclarada" (Erikson, 1972, pp. 133). Desse modo, pode-se compreender o motivo que leva muitos namoros adolescentes se limitarem à conversação e diálogo, como em uma busca na outra pessoa por aspectos particulares, próprios do indivíduo, daquilo que o define.


Nessa busca por identificações, observa-se o adolescente obtendo experiências provindas de outras pessoas, construindo ligações com aqueles que não o abandonará nesse processo de constituição da identidade. O adolescente não se conforma com o papel preestabelecido a si pelos adultos, ao mesmo tempo em que não sabe no que se tornará e o que esperar da vida, mas quer trilhar seu próprio caminho.


A confusão de identidade própria da adolescência, quando referida a um dilema de cunho sexual, étnico ou aliada a uma desesperança do indivíduo frente a não conseguir definir-se, pode suscitar episódios com características delinquentes. Sentindo-se incapaz de assumir os papéis sociais impostos, não é raro o jovem que se ausenta de uma ou outra forma, deixa a escola, passa a noite fora de casa, abandona o emprego, recolhe-se em si mesmo de forma a se distanciar dos outros. Observa-se que tal adolescente pode ficar fadado à estigmatização de parte da sociedade, caso esteja envolto por juízos sociais que desconheçam ou desprezem as condições específicas e dinâmicas dessa etapa do desenvolvimento.


Nesse sentido, pode ocorrer do adolescente se identificar com um grupo em que um representante se coloca como provocador da sociedade, de forma que o próprio adolescente não aprovaria tal atitude em si, mas se identifica com o desvio de conduta do outro buscando se auto afirmar. Tais experiências adolescentes giram em torno da inconstância dessa etapa da vida e principalmente pela ameaça sentida pelos jovens quanto à perda da própria identidade, a qual está sendo construída.


Em decorrência disso, Winnicott (1989) afirma que o adolescente saudável é imaturo e irresponsável, pois está em processo de estruturação e afirmação de si. "A imaturidade é uma parte preciosa da adolescência. Ela contém as características mais fascinantes do pensamento criativo, sentimentos novos e desconhecidos, idéias para um modo de vida diferente" (pp. 126). Mas a imaturidade não está presente todo o tempo, com o passar dos anos e a proximidade da fase adulta, espera-se que se alcance a maturidade tão almejada e cobrada pelos adultos, sem atropelos, sem pular etapas, pois ao contrário desembocaria em adolescentes com falsa maturidade.


Acima de tudo não se pode esquecer que a etapa da adolescência pode ser um período complicado e de constantes mudanças para o indivíduo, sendo em certos casos vivenciada com angústia e ansiedade. Precisa-se deixar o corpo, os pais e a vida infantil para trás, elaborar esse luto e se deparar com o surgimento de um corpo adulto, com responsabilidades, dúvidas e incertezas que antes não faziam parte da vida do adolescente.


Por esse motivo, os adultos precisam conhecer o que se passa na vida desses jovens, acompanhá-los em seu desenvolvimento, cobrando responsabilidades, mas também permitindo que avancem rumo à suas próprias escolhas.


REFERÊNCIAS: Erikson, E. H. (1971). Oito Idades do Homem. In Infância e Sociedade. Rio de Janeiro: Zahar. Erikson, E. H. (1972). O Ciclo Vital: Epigênese da Identidade. In Identidade, Juventude e Crise. Rio de Janeiro: Zahar.


Psicóloga Cláudia Yaísa

CRP 06/111120 


Facebook: Psico.Life

Instagram: psico.life

コメント


Por Cláudia Yaísa

  • Facebook
  • Linkedin
  • Instagram
bottom of page